Como a diversidade tem o poder de nos tornar empáticos
Como um ambiente homogeneamente branco me fez questionar a questão da diversidade na minha vida.
Eu sou uma pessoa branca.
Vim de uma família majoritariamente branca.
Meu avô materno era português, era machista e era homofóbico.
Minha avó, tendo vindo da roça, não podia trabalhar fora, já que a função dela era cuidar dos filhos e da casa.
Ouvi da minha avó uma vez que meu avô a traiu porque ela estava ocupada demais cuidando da mãe dele.
Ouvi do meu avô que “Freddie Mercury era um viadão que cantava muito”, que menina não devia fazer X e Y porque era coisa de menino.
E, mesmo que fossem momentos de “brincadeira”, cresci ouvindo dos meus tios que se meu irmão fosse gay ele ia levar umas porradas para “virar homem” (me dói o coração saber que isso acontece com mais frequência do que pensamos).
Talvez eles nunca tiveram alguém pra dizer que o que eles falavam era errado.
Eles simplesmente replicavam aquilo que ouviam dentro de casa.
Com relação aos meus pais: eles não são perfeitos.
Mas, sempre me deram liberdade para questionar e debater o que é dito, mesmo que isso vá de encontro com algo que eles aprenderam há muito tempo atrás.
Em casa, o que era coisa ‘de mulher’ e ‘de homem’ nunca fez sentido.
Cresci vendo minha mãe trabalhar fora e meu pai, profissional liberal, trabalhava de casa, cozinhava, limpava e fazia tudo mais que era considerado ‘coisa de mulher’.
Isso contribuiu muito para minha visão de mundo e para o que eu queria em um parceiro.
Durante muitos anos meus pais levaram eu e meu irmão à trabalhos voluntários, para conhecer outras realidades, outras pessoas, outras vidas.
Isso me tornou mais empática ? Não sei. Talvez sim, talvez não.
Mas eu tenho certeza que foi um primeiro passo para reconhecer o que hoje eu sei que é privilégio.
Na escola, uma das minhas melhores amigas era negra. A única da sala.
Para mim, ela era a pessoa mais maravilhosa dessa vida. Se me perguntassem se éramos primas, eu respondia ‘sim’ com todo orgulho, mesmo não sendo verdade.
Na nossa cabeça, não existiam diferenças.
Eu confesso que não tenho lembranças ruins daquela época. Tudo eram flores.
Mas, lembro até hoje dos meus pais comentando entre si, que uma vez ela perguntou pros pais dela o que era Homo (de homossexual) e eles responderam que era o sabão, Omo. (eu dou risada de nervoso até hoje quando lembro disso.)
Quando cresci um pouquinho, presenciei os primeiros sinais de racismo dentro da sala de aula.
Uma das meninas tinha cabelo crespo, e ela encontrou um pedaço de bombril dentro da sua mochila. Foi o maior caos.
Presenciei gordofobia. E me omiti.
Talvez eu tenha presenciado e participado de tantas outras ias também, sem questionar em um primeiro momento se o que eu fazia ou deixava de fazer machucava alguém.
No primeiro ano do colegial, ainda replicava o que era dito dentro de casa — e nem sempre eram coisas boas.
E pela primeira vez, lá pelo segundo colegial, eu tive uma amiga que era abertamente LGBT.
Eu presenciei a sua luta.
Eu a vi esconder sua namorada por medo da reação da sua família.
Eu ouvi pessoas dizerem à ela que tudo era uma fase.
E eu vi, com muito orgulho e muita dor, ela se assumir pra sua família.
Nessa mesma época, eu fiquei amiga de tantas outras pessoas com backgrounds diferentes, vindo de lugares diferentes, de classe econômicas diferentes.
Eu comecei a questionar tudo o que eu tinha aprendido até ali.
Quando você conhece pessoas e cria laços emocionais, você se torna consciente de suas dores.
Talvez mais do que se tornar consciente, você aprende a ouvir.
Há 20 anos atrás, assuntos como o feminismo, o racismo estrutural e a homofobia não eram discutidos.
Pelo contrário, faziam piadas na TV aberta em pleno Domingo.
Hoje, não tem como fugir.
A democratização da informação reforçou e viabilizou manifestações nos últimos anos.
Da Revolta da Lâmpada ao #EleNão, somos convidados cada vez mais a encarar a realidade nua e crua:
Que somos o país que mais mata LGBTs no mundo;
Que só na primeira semana de Janeiro de 2019, foram registrados pelo menos 20 casos de feminicídio (Esse número já ultrapassou a casa dos 100) ;
Que mulheres negras têm duas vezes mais chances de serem mortas do que mulheres brancas;
Que entre 2016 e 2017, a proporção de pessoas pobres no Brasil subiu de 25,7% para 26,5% da população.
Levando em consideração a quantidade de informação e depoimentos que temos por aí, como pode ainda existir pessoas que escolhem não ver? Que desvalidam e fazem chacota da luta dos outros?
Apesar dos dados alarmantes, a resposta é relativamente simples: Como empatizar com uma realidade que você não vive e nem se aproxima?
O ponto é:
A questão da diversidade vai além de respeitar leis de cotas e de integração por mera obrigação.
A diversidade é a chave para nos tornamos pessoas melhores.
É ela que permite a troca de informações, de experiências, do desatar de nós que divide nosso mundo.
Ela permite nos identificarmos no meio de tantas diferenças. (Não, não somos todos iguais).
Ela não segrega, nem discrimina e muito menos mantêm pré — julgamentos.
Apesar de um completo clichê, a diversidade reforça laços e acalma um dos nossos maiores medos: o de não pertencer.
